quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Movimento negro comenta sucessão de Matilde na Seppir

Doze dias após o desligamento da ex-ministra Matilde Ribeiro, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) está sob a gestão interina do secretário-adjunto Martvs das Chagas. Representantes de movimentos sociais negros apontam possíveis substitutos para ministra, mas avaliam que, mais que um nome específico, a secretaria precisa de ampliação da estrutura e mais articulação com a sociedade.
O nome da cantora Leci Brandão foi apontado pelo fundador e conselheiro da organização não-governamental (ONG) Educação e Cidadania de Afro-Descendentes e Carentes (Educafro), frei David, como a “indicação da comunidade negra” para substituir a ex-ministra. No entanto, a indicação não é consensual, segundo representantes do Movimento Negro Unificado (MNU) e da União de Negros pela Igualdade (Unegro).
“O nome da Leci é um dos nomes apontados, mas não é um consenso. Temos vários quadros dentro do movimento negro, dentro das várias vertentes, dos vários segmentos”, afirmou Marta Almeida coordenadora do MNU em Pernambuco. O secretário de Promoção da Igualdade da Bahia, Luiz Alberto Silva, e o secretário-executivo do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), Ivanir dos Santos, foram apontados como sugestões por Almeida.
“Nós da Unegro não temos um nome específico a indicar, mas se fôssemos apresentar um seria o da Olívia Santana, atualmente vereadora em Salvador”, apontou o integrante da executiva nacional da Unegro Julião Vieira.
Vieira afirmou que Leci Brandão “seria um bom nome”, mas, segundo ele, a lista de possíveis indicações é mais ampla, com “seis, oito ou dez nomes” e está em discussão nos bastidores.
“Quem vier tem que ter um perfil de maior amplitude e interlocução com o movimento negro brasileiro e o movimento social, com a academia [o setor acadêmico], com o movimento sindical”, avaliou Vieira. “Deve ter conhecimento da diversidade, poder atender anseios dos demais segmentos raciais existentes no Brasil: judeus, ciganos, populações indígenas”, acrescentou Marta Almeida.
A representante do MNU não descarta a indicação de um ministro branco para a Seppir. “Seria coerente, dependendo do perfil do indicado, é uma secretaria de promoção da igualdade racial, pode ser um ministro judeu, indígena. Tem que ter o perfil: não-racista, não-homofóbico e com sensibilidade para os movimentos sociais e para a questão racial”, pondera.
Já a fundadora da organização não-governamental (ONG) Geledés – Instituto da Mulher Negra, Sueli Carneiro, defendeu que “não é responsabilidade da comunidade negra” indicar nomes para a Seppir. “A secretaria é uma proposta do governo, que emerge dos compromissos assumidos pelo PT e sua base aliada com sua militância política; então, a definição desse nome é de responsabilidade e de competência do PT, da sua militância e das forças políticas que estão na base aliada desse governo. É esse segmento que tem que sugerir esse nome”, avaliou.
O colunista do jornal O Globo Ancelmo Gois publicou hoje (13) que deputado federal Edson Santos (PT-RJ) assumiria o cargo de ministro da Seppir em substituição a Matilde Ribeiro. Mas a assessoria do parlamentar informou à Agência Brasil que Santos não recebeu nenhum convite oficial, razão pela qual se nega a comentar a possível indicação. Na secretaria, a informação é de que os funcionários da pasta ainda aguardam uma sinalização do Palácio do Planalto, que até o início da tarde também não confirmava a suposta escolha do presidente Lula.