Cansada, ansiosa, irritada... se você anda se sentindo assim, alto lá: esses sintomas não necessariamente são conseqüência do stress e da rotina agitada. Pode ser sinal de desequilíbrio na tireóide - mal que atinge de cinco a dez vezes mais mulheres do que homens. A boa notícia: o que você come pode ajudá-la a ficar longe dessa estatística.
Karina Hollo e Fernanda Allegretti
A secretária Regina Marques, de 23 anos, levou quase um ano para descobrir o que estava acontecendo com sua energia. Não tinha disposição para nada, dormia sentada em frente à tevê... Pudera: acordava antes das 7, trabalhava até quase 7 da noite, dali seguia para o curso de letras. E, quando chegava em casa, precisava dar cabo dos trabalhos da faculdade antes de pregar os olhos. Quem não ficaria podre de cansada? Não passou pela cabeça dela procurar um médico até que, seis meses mais tarde, ganhou peso de uma hora para a outra. Ok, ok... ela não se alimentava bem — às vezes, almoçava coxinha e jantava pão de queijo. Mas isso não era motivo para engordar 10 quilos em três meses, concorda? O sobrepeso foi a gota d'água — e a salvação. Regina marcou uma consulta e, com um exame de sangue, descobriu um desequilíbrio no funcionamento da tireóide.
Essa glândula com formato semelhante ao de borboleta, localizada na parte anterior do pescoço, é uma das maiores do nosso corpo, embora meça cerca de 5 centímetros e pese 20 gramas. Como uma maestrina, rege o funcionamento do organismo. Isso porque produz hormônios, sendo os principais o T3 (triiodotironina) e o T4 (tiroxina), que são levados pela corrente sanguínea a fim de regular o metabolismo e assegurar que órgãos vitais, como coração, fígado, rins e ovários, trabalhem de maneira eficaz. Preocupada, Regina se perguntou: por que eu?Mulheres: principal alvo.Você tem uma amiga, prima ou vizinha que, como a Regina, passaram pelo mesmo transtorno? Coincidência explicada: alterações na glândula atingem de cinco a dez vezes mais mulheres do que homens. "Alguns genes que induzem o desenvolvimento de doenças da tireóide são ligados ao cromossomo X, feminino", explica o endocrinologista Geraldo Medeiros Neto, presidente do Instituto da Tireóide (Indatir).
Além disso, a maior parte desses males é auto-imune, outro problema tipicamente nosso. "É como se o organismo produzisse uma reação de defesa quando um agente externo ataca. Só que, nesse caso, é contra a própria tireóide", acrescenta Rosita Fontes, endocrinologista do Lavoisier Medicina Diagnóstica e do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (Iede-RJ). A predisposição genética é a principal causa desse desequilíbrio, desencadeado após situações de grande stress físico ou psíquico. "Ele desregula o sistema de defesa do organismo, que passa a agredir os órgãos e tecidos. Quanto à tireóide, pode funcionar de mais ou de menos", continua. Ela conta que, por apresentar sintomas sutis, às vezes é difícil diagnosticar quando a glândula precisa de tratamento, como ocorreu com Regina.